Sobre a pesquisa: "A representatividade de mulheres na história da arte: Discussões sobre gênero e sexualidade na análise de exposições", desenvolvida como trabalho de graduação no curso de Licenciatura em Artes Visuais na UFES, sob orientação da Profa. Dra. Julia Rocha
Quantas artistas mulheres você conhece? Quantas lhe foram/são apresentadas durante as aulas de História da Arte?
Não conhecermos artistas mulheres não quer dizer que elas não tenham existido. E na busca de tentar compreender o porquê de conhecermos poucas mulheres artistas ou porque as vemos menos em cursos e exposições foi que a pesquisa A representação de mulheres na história da arte: Discussões sobre gênero e decolonialidade na análise de exposições” se desenvolveu em cima do seguinte problema: qual o espaço que mulheres ocupam no campo da arte?
Para compreender os (poucos) espaços que foram deixados para as mulheres na arte, foram analisados os fatores históricos e sociais que influenciaram suas possibilidades de produção e baixa representação em documentos e livros da história oficial da arte. Nessa pesquisa se buscou uma ampliação do olhar para a história da arte documentada (essa escrita, geralmente, em letras maiúsculas), pois buscamos um olhar decolonial para essa história da arte em maiúsculo, já que ela possui um escopo limitado e se pretende única.
EvaMarie Lindahl e Ditte Ejlerskov - About the Blank Pages/Sobre as páginas em branco (2014)
Dizemos que essa história oficial da arte se pretende única, pois é reconhecido que a ciência ocidental buscou criar a falsa ideia de um sujeito enunciador neutro, entretanto percebe-se a partir dos pensadores decoloniais que todo conhecimento está relacionado a um sujeito que parte de um lugar de fala específico, sendo esse sujeito fruto de experiências e de uma educação que perpetua essas concepções de uma história única.
Coletivo Guerrilla Girls - Guerrilla Girls para os museus: é hora de mudar de sexo! (2012)
O trabalho é dividido em três capítulos, no primeiro abordamos os estudos feministas e decoloniais buscando compreender os fatores que contribuíram para a exclusão de artistas no sistema da arte. O feminismo foi pesquisado a partir de Angela Davis (2016), Carla Cristina Garcia (2011), Guacira Louro (1997), Linda Nochlin (2016) e Simone Beauvoir (2017). Os estudos decoloniais foram abordados a partir dos autores: Aníbal Quijano (2002), Luciana Ballestrin (2013), Ramón Grosfoguel (2008) e Walter Mignolo (2008).
O segundo capítulo trata de como o movimento feminista e os estudos decoloniais vão reverberar na arte. Assim, são analisadas algumas obras como as das artistas Rosana Paulino, Judy Chicago e do coletivo Guerrilla Girls. Nessa seção os autores abordados são: Rozsika Parker (2019), Griselda Pollock (2019) e Ananda Carvalho, Bruno Moreschi e Gabriel Pereira (2019).
O terceiro e último capítulo analisa a produção de artistas mulheres incluídas nas exposições História das Mulheres: artistas até 1900, Histórias Feministas: artistas depois de 2000 e Mulheres Radicais: arte latinoamericana, 1960 – 1985. Essas exposições, assim como outras que têm ocorrido nos últimos anos, buscam registrar, documentar e valorizar a produção artística feminina, alterando o cenário excludente da história da arte.
Pinacoteca do Estado de São Paulo - Cartaz da exposição Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985 (2018-2019)
Museu de Arte de São Paulo - Catálogo da exposição Histórias das mulheres Histórias feministas (2019)
A partir da pesquisa foi constatado como o patriarcado e a hegemonia do conhecimento vão construir a estrutura do cenário excludente que reverbera nos cursos de formação e nos currículos da educação básica. Dessa forma, o movimento feminista e os estudos decoloniais se mostraram de extrema importância para compreendermos esse cenário desigual.
sobre a autora:
Raquel das Neves Coli é professora de artes no ensino básico da rede municipal de Cachoeiro de Itapemirim - ES. Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Foi bolsista voluntária de Iniciação Científica com o sub-projeto “Pressupostos da estética de Bertolt Brecht segundo Gerd Bornheim” (2018-2019). Se interessa por história da arte e suas intersecções com a teoria feminista. É parte do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES).
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