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Foto do escritorisabela vieira martins

sobre a pesquisa: elo e paradoxo, arte e educação

uma busca da historicidade espaço-temporal da arte contemporânea e uma análise de metodologias do ensino de arte


Sobre a pesquisa: "Transversalidade entre arte contemporânea e educação: Contexto histórico e aproximações com o contexto escolar", desenvolvida como trabalho de graduação no curso de Licenciatura em Artes Visuais na UFES, sob orientação da Profa. Dra. Julia Rocha



Desde da época da escola notei que os conteúdos e as práticas artísticas contemporâneas não eram explicadas nem apresentadas na sala de aula, mas achava que o motivo disso acontecer era porque essa temática nem era considerada um conteúdo na história da arte, portanto não era importante. Cresci ouvindo que arte era pintura, escultura, desenho e que outras linguagens artísticas (mal compreendidas) poderiam ser desconsideradas. Como um ensino displicente pode levar a um entendimento equivocado? Por não ser muito bem explicado, eu tive um entendimento embaralhado sobre o que era arte contemporânea. Como e quando começou? Quais eram as ideias que se defendiam? Quais artistas que mais se destacavam? Por que ninguém sabia me explicar?

Foi durante o curso de Artes Visuais na UFES, frequentado de 2015 a 2020, que comecei a entender mais sobre as produções artísticas contemporâneas. Em meados do curso entrei em um grupo de estudos que tinha o interesse em aprofundar mais nesse assunto e assim foi ficando cada vez mais elucidativo. Logo após isso, entrei também na Iniciação Científica que oportunizou a realização de entrevistas com professoras do Ensino Fundamental das escolas municipais de Vitória (ES). Nessas entrevistas fiz um esboço de perguntas que abordavam sobre a metodologia e conteúdos usados pelas professoras, mas o objetivo central era saber se o ensino de arte contemporânea adentrava na sala de aula. Na mesma época eu estava começando a dissertar o meu trabalho de conclusão de curso (TCC) e pensei então em usar esse material da Iniciação Científica como premissa.


Para tanto, antes mesmo de apresentar os dados averiguados das entrevistas, foi preciso delinear na história da arte a situação existencial da arte contemporânea já que essa é designada como não pertencente, quer dizer, transversal ao tempo, uma vez que remete às próprias noções artísticas que a antecederam. Como também, precisou-se analisar o percurso das correntes metodológicas do ensino de arte ao longo dos anos, para então fazer uma reflexão crítica sobre como o ensino de arte contemporânea é incluído no espaço escolar, levantando discussões sobre como a metodologia e o conteúdo são trabalhados dentro dos planos de ensino dos professores de artes visuais do ensino fundamental. Nesse sentido, a investigação dessa pesquisa realizou-se a partir da seguinte problemática: Quais são os motivos dificultadores de desenvolver as abordagens artísticas contemporâneas nas práticas educativas?


Ao pensarmos no ensino de arte contemporânea na escola, logo nos deparamos com a falta de definição desse campo. Desse modo, em uma tentativa de significação e dimensão do espaço-tempo em que a arte contemporânea se desenvolve, na minha pesquisa integrei algumas produções artísticas no intuito de exemplificar as mais diversas, plurais manifestações e linguagens na contemporaneidade que conectam com outras áreas do campo da arte e da vida. A partir desse pressuposto, se a arte contemporânea é determinada pela incerteza e impermanência de conceitos, visto que a realidade da mesma está ainda em elaboração, como então integrá-la aos projetos didáticos?

Hal Wildson - República da desigualdade - Meritocracia seja louvada (2019)

Se o exercício de definir o campo da arte contemporânea e de codificar suas especificidades é importante para o ensino de arte, da mesma forma a escolha de uma vertente metodológica na esfera artístico/educativa também é fundamental. Para a compreensão de uma metodologia que integrasse as noções artísticas da contemporaneidade precisou-se analisar o trajeto histórico de correntes pedagógicas que passaram por reformulações ao longo dos anos e observar que o ensino de arte contemporânea e os desdobramentos relacionados à ela, conectam-se com uma metodologia que reflita as questões trazidas pelo tempo contemporâneo. Assim, cabe perguntar: a metodologia usada hoje nas escolas contempla as repercussões da cultura visual ou da realidade do aluno?

Néle Azevedo - Monumentos mínimo (2016)

As entrevistas com as professoras (no feminino por ser um número majoritário de mulheres) surgiu de uma necessidade de esmiuçar os aspectos evasivos e dificultadores do ensino de arte contemporânea no espaço escolar. Como também, entender o motivo das práticas artístico-educativas permanecerem assentadas predominantemente nas perspectivas modernistas. É eminente pensar em conteúdos e práticas educativas do ensino de arte que integrem as abordagens mais aproximadas do panorama da atualidade tendo em vista que os estudantes estão inseridos em contextos locais e espaciais da cultura visual global e que isso interfere na subjetividade, aprendizagem e sociabilidade deles. Mas por que tanta insegurança de se desvincular da noção de arte moderna nos processos educativos?


Em síntese, a familiaridade com a arte moderna se deve ao pilar consolidado em uma narrativa linear, de visão progressista, de perspectiva formalista e conservadora. A arte contemporânea por sua vez, não se respalda em nenhum dos pilares estáveis conhecidos até então pelo campo, sendo enigmática e obscura em sua demarcação, devido a abrangência que assume correlacionada com o campo da vida cotidiana. Na pesquisa, mostrou-se que apesar do campo de incertezas, abordar as produções artísticas contemporâneas como conteúdo é o que faz ampliar as experiências relacionais e fomentar o pensamento crítico. O estranhamento relativo a esta arte é a premissa estratégica para conduzir um diálogo, uma discussão. Porque o princípio de um aprendizado é o que te envolve, como por exemplo, um questionamento.


Por fim, é importante ressaltar que utilizar uma metodologia contemporânea ou desenvolver o conteúdo de arte contemporânea não significa desvalorizar (ou ignorar) uma consciência histórica e sua linha cronológica de eventos, mas entender que desenvolver arte contemporânea como conteúdo e como metodologia demandaria do professor a revisão da sua didática para que o ensino de arte não se estagne. Com o objetivo de promover o exercício de desconstruir pensamentos arraigados na tradição e ampliar as conexões e cumplicidades proporcionadas por uma didática fundamentada na contemporaneidade. Nortear o aluno nessa diversidade de linguagens e produções é valoroso, pois assim não se restringe a apresentar apenas um lado ou um ponto de vista da história da arte.



sobre a autora:

Isabela Vieira Martins é licenciada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) no curso de Artes Visuais. Membro do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES). Os interesses de pesquisa permeiam pelo campo da arte/educação e da arte contemporânea como fomentadora de práticas educativas.

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