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Foto do escritormariana lydia bertoche

sobre a pesquisa: ausência transbordada

Sobre a pesquisa: “Ausência transbordada: desvelamentos do presente”, uma investigação de mestrado realizada por Mariana a partir do Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro de 2019 a 2021, sob orientação da Profa. Dra. Leila Danziger.



Esta pesquisa testemunha a busca por sentido de uma neta de ex-preso político, a chamada terceira geração de diretamente afetados pela ditadura militar. Analisa produções artísticas à luz e à sombra de memórias e experiências traumáticas tanto do século passado (sobretudo as ditaduras militares da América Latina) quanto do início do século XXI. A dissertação se constitui como tentativa de escrita de si, reunindo práticas fotográficas e modalidades textuais diversas, transbordando memórias e acontecimentos de um passado que se faz presente. O que se apresenta aqui são experimentos híbridos de texto e imagem, que estabelecem, em temporalidades diversas, tentativas de ficcionalizar e entender poética e historicamente o tecido espaço-temporal em que nos encontramos.



ABERTURA

Entender-se como artista e neta de preso político durante a ditadura militar, assumindo lugar na luta contra o desejo de esquecer a partir de Melendi; Do material de coleta à percepção de dentro e fora / privado e público / familiar e coletivo; Como a imaginação pode enfrentar o trauma, de acordo com Seligmann-Silva, e reflexões sobre a pulsão de morte problematizada por Mbembe num contexto de recrudescimento do revisionismo à memória da ditadura de 1964; O testemunho sem língua própria para Ranciére e as aberturas do procedimento poético a partir dos anos 1970; Ausência transbordada à luz dos novos tempos: expansão e transgressão dos limites e “esquemas” a partir de escritos de Le Parc e Plaza e de poéticas latino-americanas de desvelamento do presente.



QUERO ESCREVER PARA LUGARES, NÃO SEI POR ONDE COMEÇAR

Cartas para lugares onde morei (primeira experiência) - a obliquação no Romance e na escrita de si a partir de Clarice Lispector e Nodari. Por que escrever? Quanto de moderno resiste em mim? Que jogos de poder atravessam minha pesquisa? A que encantamentos do século XXI sou mais vulnerável? Como se manter em contínuo atravessar dos limites da linguagem (dentro e fora que se sobrepõem)? A falha tentativa de escapar das armadilhas classistas e brancas da escolarização (é possível escapar da eloquência improdutiva?) e os reveses da escrita em primeira pessoa (quais os limites éticos de se ter como referencial?)



TUDO É SOBRE MONTAGEM

Conceito ampliado de montagem do cinema, a partir de Aumont e Leandro; Cesura e sutura: elementos fundamentais para se pensar a montagem do tempo, as histórias e o processo artístico a partir Benjamin, Warburg, Soares e Aumont; Do fragmento à narrativa, dos vestígios à invenção: das ações coletivas de 2021 de Anita Sobar às de 2017 - análises a partir da montagem: seu conceito (Aumont e Soares), o fragmento como seu princípio e sua relação com a memória (Mourão); De Bem-vindo, presidente! (2015-2016), de Rafael Pagatini e Antessala (2015-2016), do grupo VNTD aos Aparecidos Políticos (2011-) se articulando com Grupo de Arte Callejero em Fortaleza (2013): a montagem como elemento de atualização no presente; Compartilhar o processo de criação através da montagem a partir de Leandro, Godard e Freire: juntar fragmentos e acessar leituras de mundo criadas por esse procedimento.



UM ENSAIO POR MEMÓRIAS VELADAS

Registro e coleta de uma atmosfera ligada aos desejos de um tempo a partir de máquinas de olhar (analógicas ou digitais) pelas ruas da cidade - das entregas dos relatórios das Comissões da Verdade em 2014 aos dias de hoje; Os registros e movimentos pela cidade que se potencializam do pessoal para o coletivo a partir de fotomontagens; Memórias transbordadas de geração em geração - poéticas da ausência como antimonumentos da barbárie; Das memórias de junho de 2013 ao avesso das imagens e das fotografias esquecidas no aparelho: experiências de ativação da cidade e suas memórias a partir dos fios vermelhos, Foucault e Benjamin; O gesto, a fotografia, o passar dos anos, o velar e revelar das imagens; Permanências de violações de militares: Da história de meu avô (1970) a Apulchro de Castro (1883) - “A origem da questão militar” segundo Fialho e o Estado Moderno que torna soberano o direito de matar segundo Mbembe.



CARTAS PARA LUGARES ONDE MOREI (continuação da experiência)

cartas para um sobrado verde-água da Lapa

cartas pro nosso primeiro aparelho

cartas para o apartamento da Praça Sete (de março)

As casas, os atravessamentos e os trabalhos com os quais me relacionei. Reflexões sobre questões como a enunciação da utopia, a acumulação, o encobrimento, a relação com o texto, a dissidência incendiária e a ocupação pública: Anita Sobar (lambe-lambes Procura-se uma utopia, 2010), Diambe Silva (Devolta, 2020), Filhos e Netos RJ (Homenagem a Inês Etienne com projeção, 2021), a Campanha Ocupa DOPS (2014-) e meu trabalho como artista; Montagens possíveis: da prisão de meu avô em 1970 às reflexões levantadas dias depois em Belo Horizonte no evento “Do corpo a Terra”: Cildo Meireles (Tiradentes: Totem-monumento ao preso político e Caixas de Brasília em Brasília no ano anterior), Artur Barrio (Trouxas Ensanguentadas, manifesto Lama/Carne Esgoto e Defl….Situação…+S+...Ruas…. e 4 dias…….4 noites no mesmo ano no Rio de Janeiro); O risco de desaparecimento das imagens do passado segundo Benjamin: Fotografia La Clase, da série Buena Memoria de Marcelo Brodsky (1996), as Madres de Plaza de Mayo, os H.I.J.O.S e o Grupo de Arte Callejero na ativação pública da memória sobre a ditadura da Argentina; Reflexões sobre o entendimento da América Latina como um território comum a partir de microconto As Tradições Futuras de Galeano; Ações experimentais dissidentes chilenas de 1979: Cecilia Vicuña em “Vaso de Leche, Bogotá”, o Colectivo de Acciones de Arte (CADA) em ação “Para no morir de hambre en el arte”, Lotty Rosenfeld em “Una milla de cruces sobre el pavimento” - materialidades do desaparecimento, das veladuras, cortes, golpes, riscos e sobreposições em alguns países da América Latina como Argentina, Chile e Uruguai segundo Giunta; “La conquista de América” (1989), do coletivo Las Yeguas del Apocalipse e relação com ações CADA em 1983 e 1984 ligadas à campanha NO+: Por que predomina o resistir a crer, o virar a página, por que não querer saber?, segundo Lemebel; Relato de um Projeto 1968/1969(2018), de Carmela Gross e Las Locas (1992), de Anna Maria Maiolino a partir de Miyada e Lourdes; Das Madres e Abuelas da Argentina ao coletivo de Filhos e Netos por Memória Verdade e Justiça RJ; Ações experimentais argentinas de 1968: Graciela Carnevale, Ciclo de Arte Experimental, Margarita Paksa e Tucumán Arde a partir de Pineau, Alonso, Gramuglio, Rosas, Escadell e Ferrari; Ensacamento (1979), do coletivo 3NÓS3, ação do Colectivo de Acciones de Arte (CADA) Ay Sudamerica (1981) e Operação Carcará (2013) dos Aparecidos Políticos: inserções e subversões de circuitos - da ação anti-sistema à incorporação do sistema pelo objeto-registro e a especificidade contemporânea de semeadura dos rastros. Das imagens que não puderam se realizar ontem às adiadas hoje - autocensura nos anos ditatoriais e democráticos : Nós (1972) da Regina Vater, Adrianna Eu (Entre, 2008 e o vermelho) - os tecidos de dentro e de fora.



6 NÃO HÁ IMAGEM SEM IMAGINAÇÃO

Reflexões e construções poéticas da queima de livros da Praça Bebel, em Berlim (10 de maio de 1933) até a de Salvador (19 de novembro de 1937) - procurar nos rastros dos recortes das histórias a potência criadora, “num conceito de baixo para cima”, a partir de Barrio, Melendi e Benjamin, reconhecendo na ficção seu caráter político segundo Ranciére; Supressões oficiais e o compromisso do artista de agir à contrapelo segundo Benjamin - dos reescritos de Lins sobre a inauguração do monumento a Cabral de 7 de maio de 1900 ao ensaio escrito e fotográfico de escrita não-linear de meu tempo; O procedimento de coleta e compartilhamento de imagens contemporâneo na criação de imaginações de futuro a partir de Plaza, Sontag e Benjamin; Reflexões poéticas em caderno/diário - evocar lembranças e datas que não quero esquecer; Ferramentas de dobra do tempo: reflexões sobre montagem, afeto, linguagem e apagamento a partir de Galeano, da Circular do Comité Central à Liga dos Comunistas (março de 1850) e de experimentações poético-revolucionárias do presente - da máquina de escrever de meu avô à minha Smena8M; Imagens possíveis - da Antessala (2016) e Rua da Re ação (2016) a registros do Cordão do Boitatá, em 16 de fevereiro de 2020.



sobre a autora:

Artista visual, escritora, professora de Artes Visuais licenciada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestra em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ). Atualmente é professora no município de Vitória e doutoranda em Estudos Contemporâneos das Artes no PPGCA-UFF (Universidade Federal Fluminense). Atua em Educação desde o início da graduação, tendo trabalhado principalmente em escolas particulares e públicas da cidade do Rio de Janeiro. Mariana desde pequena foi movida pela potência da invenção de histórias, e foi descobrindo na montagem das palavras, imagens e sentidos um território de liberdade e experimentação. Entendendo o particular muitas vezes como coletivo, ela também é ativista em coletivos por memória, verdade, justiça e reparação sobre as violências do Estado - principalmente da última ditadura militar do Brasil. marianalydiaarte.wixsite.com/portfolio



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