Em Espaço e lugar, Kátia Canton aborda o fato de um dos aspectos definidores que a arte existe é a ocupação dessa frequentemente em espaços refletidos como museus ou galerias, exemplos que exprimem parte da instituição artística. Entretanto, a autora também aponta cenário no qual a arte começou a ocupar o espaço da natureza, impulsionada pela Land Art que emergiu nos anos 1960 nos Estados Unidos, cujos artistas questionaram o estabelecimento da arte institucionalizada nos museus.
Nesse sentido, para Canton a Land Art não era uma arte de paisagem como as pinturas de natureza que existiam desde o século XVII e foram instituídas como um gênero pela Academia de Belas Artes, entretanto, eram artes feitas na paisagem e que costumavam utilizar os próprios elementos e objetos da natureza como material artístico.
Além disso, na arte contemporânea comumente artistas trabalham dentro da noção de site specific, ou seja, obras concebidas e pensadas para um lugar determinado que dialoga diretamente com a obra, agregando uma camada de sentido e nesse sentido podem estar instaladas dentro das galerias e museus ou até mesmo em praças públicas e na natureza.
Com isso, mediante a contextualização, um dos artistas que exemplificam e estabelecem a relação entre obra de arte e natureza é o norueguês Rune Guneriussen. Seus trabalhos de site specific acontecem na natureza e se situam entre instalação e fotografia, pois o artista sempre os registra fotograficamente. Apesar de estarem na natureza não são feitos somente da natureza, mas sim da junção dos espaços e elementos naturais com a instalação de objetos produzidos por humanos como luminárias, livros e telefones que são instalados, como na obra Ravnen skriker over lavlandet, de 2013.
Rune Guneriussen - Ravnen skriker over lavlandet (2013)
Para Rune seu trabalho é construído a partir do objeto, da história, do lugar e do tempo em que é realizado e dialoga com questões que envolvem a relação entre natureza e cultura humana e possuem o objetivo de desconcertar ou questionar e não ditar um caminho para a compreensão da sua arte, mas sim para o entendimento de uma história.
Além de Rune Guneriussen, a portuguesa Gabriela Albergaria igualmente trabalha aspectos que se conectam com a natureza, na qual explora as linguagens do desenho, instalação e escultura. Seu trabalho perpassa por espécies vegetais e jardins que são utilizados como meio para transparecer mudanças culturais por caminhos em que são produzidas visões da natureza, como interpretações das paisagens. A artista não só trabalha nos espaços de natureza como jardins e parques, mas também leva a natureza para dentro de galerias e lugares expositivos. Um exemplo disso é a obra Sem título, de 2012 que se constitui em extratos de troncos de árvores expostos na Bienal de Montevidéu, no Uruguai, em 2012.
Gabriela Albergaria - Sem título (2012)
Portanto, ambos os trabalhos dos artistas mencionados levantam questões acerca do local da arte, dos materiais artísticos e das relações estabelecidas com o ambiente, logo, questionamentos e pensamentos podem ser considerados a partir disso e levados para discussão no campo da educação, como, por exemplo, a relação do espaço natural nos trabalhos do Rune versus a materialidade e artificialidade dos objetos produzidos pelo homem e como hodiernamente a relação entre o artificial/natural acontece no cotidiano. Igualmente pode ser examinada a relação da acumulação de objetos presentes nas obras e na junção de propostas artísticas, como no caso desse artista, o site specific e também a fotografia que pode ser compartilhada posteriormente como registro e também como objeto de arte em si.
Ao partir do trabalho da Gabriela pode-se levantar também o encontro entre o natural e o artificial, no caso a junção de algo que foi parte da natureza com o lugar expositivo, artificial e construído pelo ser humano, como no trabalho exposto na Bienal de Montevidéu (2013). Ademais, pode ser traçada uma discussão de quais são as diferenças entre o natural que está na natureza e no que se transforma quando ele é retirado do seu lugar de origem e colocado dentro de uma galeria.
sobre a autora:
Clara Pitanga Rocha é graduanda na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atualmente faz parte do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES), com o objetivo de estudar os caminhos e as relações entre arte contemporânea e educação.
referências:
CANTON, Kátia. Espaço e lugar. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
http://www.runeguneriussen.no/
https://www.gabrielaalbergaria.com/
https://galeriavermelho.com.br/en/artista/43/gabriela-albergaria
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