Relato da oficina “Pausa no trajeto: uma exploração do espaço”, com Clara Pitanga Rocha, realizada em 28 de maio de 2022 na Casa Porto das Artes Plásticas
Caminhar. Confesso que não tinha parado para racionalizar o ato de andar até participar da oficina “Pausa no Trajeto: Uma Exploração do Espaço”. Talvez porque seja uma atividade cotidiana, uma ação que faço desde pequena. Então, mover-me tornou-se natural, apenas o meio para cumprir um propósito: chegar a algum lugar. Sei que para algumas pessoas, aquelas que têm a possibilidade de se locomover, andar também exerce o objetivo de movimentar o corpo para fazer atividade física, como forma de espairecer e de desestressar. Mas para mim, cumpria a função de locomoção.
Possivelmente por isso, tive grande surpresa ao executar as ações sugeridas pela mediadora, Clara Pitanga Rocha, que nos convidou a observar o caminhar nas ruas do Centro de Vitória e criar novas perspectivas sobre os locais cotidianos que circulamos. As proposições eram dinâmicas e continham desenho, mapa, fotografia, debates, escrita, ‘caça’ a objetos. Resumidamente o sugerido foi: escutar atentamente aos sons da cidade e fazer um ‘mapa sonoro’, construir um andar atento para recolher ‘coisas’ que estavam na rua, caminhar seguindo orientações e tirar uma foto do ‘objetivo final’, observar os monumentos em ruínas e fazer uma fotografia.
As sugestões foram muito interessantes, eram distintas ao mesmo tempo que se complementavam. Fiquei bastante intrigada com as reflexões que surgiram no decorrer das execuções, mas aqui destaco duas: o meu corpo na cidade e ser estrangeiro na cidade que habito.
Meu corpo na cidade
A cidade pré-determina onde meu corpo pode ou não caminhar. Não somente define sobre o local de ocupação mas qual a idade apropriada, o sexo, a hora e por quanto tempo podemos permanecer naquele lugar.
Foi possível observar esse fato na “Proposição 4: Monumentalizando Ruínas”. Para executar a ação sugerida de fotografar um monumento em ruída, acabei indo a um beco onde haviam trabalhadores, me senti acuada e busquei uma outra rua com maior movimento. Quando compartilhamos nossas experiências, após fazer as proposições, percebi que alguns companheiros e companheiras tinham ido ao mesmo local, mas diferente de mim, eles entraram, passaram pelos homens e fizeram as fotografias sem nenhum problema. Pelas minhas experiências passadas, naquele momento, a cidade me falava que eu não poderia estar ali, por isso recuei.
Ou seja, existem elementos acolhedores e repulsores na cidade e eles se ‘comunicam’ de forma diferente para cada um de nós.
Ser estrangeiro na cidade que habito
Com a oficina eu passei de ser uma pessoa que apenas vê o objetivo final, para aquela que desfruta o trajeto.
Confirmei essa observação na “Proposição 2: Coleta no Percurso”, onde tínhamos que observar atentamente o local que caminhávamos e pegar algum objeto ou ‘coisa’ que nos chamasse a atenção. Já tinha andado por aquelas ruas do Centro incontáveis vezes, mas nunca tinha parado para notar os detalhes.
As sutilezas que observei naquele dia, me fizeram pensar o quanto eu foquei no ponto de chegada e por vários motivos, não prestava mais atenção nas belezas que envolvem os caminhos que faço. Tinha perdido aquela sensação gostosa de ver o Convento da Penha quando subo a Ponte, de ir à Praia da Costa só para colocar meu pé no mar e de caminhar até o topo do Morro do Moreno. Depois da oficina eu recuperei uma certa liberdade de ocupar o lugar que era meu, mas eu tinha esquecido.
Comments