Relato do encontro “Outra arte”, com Mônica Nador, realizado em 17 de agosto de 2020
Uma arte inquieta, que peregrina pela periferia com cores fortes e contrastantes. Essas obras que me chamaram a atenção eram estampas sequenciadas e padronizadas nos tecidos e paredes demarcando um ritmo visual instigante. As pinturas observadas foram realizadas através de oficinas colaborativas em parceria com a artista visual Mônica Nador no Jardim Miriam Arte Clube – JAMAC, uma associação sem fins lucrativos fundada pela mesma, um verdadeiro ateliê aberto, localizado no bairro Jardim Miriam, em São Paulo.
Em nosso Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea preparamos uma série de perguntas para o encontro “Outra Arte”, onde pretendíamos dialogar sobre as relações da arte nos espaços entre a educação formal e a educação não formal. Queríamos conhecer os projetos artísticos desenvolvidos no JAMAC com estêncil e entender melhor o seu contexto durante a pandemia do COVID-19, refletindo também de que forma a arte contemporânea pode contribuir na formação do professor de Artes Visuais.
Para nosso encontro online foram disponibilizados vídeos com entrevistas, textos sobre os seus trabalhos e exposições online em redes sociais. Mônica nos explicou que o JAMAC foi fundado em 2004, desenvolvendo ações na comunidade e fora dela em prol da produção coletiva. Contudo, apesar do tempo de realização do projeto, a artista nos disse que para mantê-lo depende de doações, estabelecimento de parcerias e editais de cultura.
Na fala percebo que suas atitudes são um exemplo para repensarmos a relação arte/ comunidade. Se deslocando do trabalho como artista dedicado apenas para exposições em galerias e museus de arte, Mônica buscou então caminhar no aspecto não formal do ensino da arte e assim enquanto pintora, desenhista, gravadora se colocou à disposição da comunidade do Jardim Miriam. Seus projetos de oficinas artísticas desenvolvidos envolveram nosso diálogo, assim como seu entusiasmo e otimismo que nos instigavam cada vez mais e mais questionamentos e conversas.
Entre outras reflexões, analisamos o sistema elitizado da arte que ainda precisa se abrir mais para receber a comunidade carente. Mônica pontuou o quanto que a arte a completa quando desenvolvida nos bairros periféricos resgatando valores identitários e culturais em um país com tantas desigualdades sociais. Em seu projeto são realizadas oficinas de desenho, xilogravura, vídeo, estamparia, oferecendo um formação ligada ao trabalho, ao lazer e valorização da cultura local. Assim, o espaço do JAMAC também se torna um lugar para formar oficineiros que atuam como multiplicadores artísticos na região junto com outros artistas e moradores do bairro.
Sobre aspectos do ensino da arte nas escolas, a artista destaca que não podemos deixar que a pouca liberdade que temos para desenvolver oficinas artísticas torne o seu ensino pouco atrativo para os educandos. No ensino formal ou não formal destacamos em nossa conversa de que forma a arte pode favorecer na formação dos sujeitos. Me apresentei para Mônica como professora de arte na rede pública estadual do município de Vila Velha, ES. Relatei que durante as aulas remotas desenvolvi um projeto interdisciplinar chamado “Um novo olhar em tempos de pandemia” e que estava criando desenhos que serão futuramente pintados nas paredes e muros da nossa escola. Perguntei de que forma eu poderia envolver a comunidade nesse projeto. Ela me olhou acolhedoramente e me disse:
- Com coragem! Vá e mude a realidade aonde você atua! Depois me convide, pois quero ver os resultados alcançados!
Suas palavras firmes e motivadoras ainda ecoam e sustentam minha busca por um diálogo entre a instituição escolar, a comunidade e seu entorno ressaltando as possibilidades e potencialidades artísticas para além do circuito fechado da arte.
Podemos mobilizar mais o ensino da arte nas escolas inserindo a comunidade do seu entorno nas ações artísticas escolares? De que forma conseguirei estabelecer essas conexões? Mônica nos provocou questionamentos, mas as respostas também foram apontadas, e assim ela me disse:
- Estabeleça diálogos!
Encerrando nossa videoconferência comecei a perceber o quanto ampliei meu olhar para a necessidade de promover no meu espaço escolar um ensino da arte que inclua os bairros de periferia das cidades nas conversas e discussões acerca da importância de promovermos e articular mais ações culturais conectando por meio das diversas expressões da arte os indivíduos de um bairro e a sua escola.
sobre a autora:
Juliana de Oliveira Amorim Gomes é bacharel em Artes Plásticas pela Universidade do Espírito Santo e Licenciada em Educação Artística pelo Centro Universitário Claretiano. MBA em História da Arte pela Universidade Estácio de Sá. Pós-graduada em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal do Espírito Santo e em Educação Especial pelo Instituto Superior de Educação de Afonso Cláudio. Professora de arte na educação básica desde 2002 atuando em redes estaduais, municipais e privadas de ensino. Licencianda em Artes Visuais na Universidade Federal do Espírito Santo, integra o Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES). Tem interesse de pesquisa na área de história da arte contemporânea, a mediação cultural no ensino da arte e sobre as relações étnico-raciais no ambiente escolar.
Comments