Diário visual reúne fragmentos de uma vida digital: a minha história. Me propus a narrar minha rotina por meio de uma sequência de selfies, registradas cotidianamente ao longo de um período de 40 dias. Imagens e selfies são compartilhadas constantemente através das redes sociais, o que faz com que a construção de biografias visuais ganhe cada vez mais notoriedade, refletindo sobre a forma como as pessoas se expressam, se conectam virtualmente, revelando quais produtos possuem e como elas querem se parecer.
Através das selfies, mergulhei no meu próprio dia a dia, contando a história do lugar em que eu estava, minhas emoções e sensações que são possíveis de serem lembradas através dessas memórias visuais, da memória fotográfica. Cada imagem é um fragmento significativo da minha narrativa, um instante congelado dos dias em que eu me senti feliz, triste, bem arrumada ou completamente cansada. As selfies em frente a espelhos, vidros e outras superfícies de reflexo foram escolhidas como efeito da explosão desse estilo de autorretrato, impulsionado pelo advento das câmeras digitais. O celular, posicionado em frente ao rosto em todas as fotos, simboliza que ele é o centro dessa transformação cultural, onde o dispositivo digital tornou-se o protagonista e é o responsável por concentrar a busca por uma construção de uma imagem digital do indivíduo.
Essa ampliação se baseia nas reflexões do trabalho de conclusão "Imagem/pós-fotografia/educação", mais especificamente no ensaio A construção das bio[foto]grafias. No texto, exploro o surgimento e a popularização da cultura das selfies, a adoração da autoimagem e o compartilhamento constante de imagens que moldam a maneira como as histórias pessoais são narradas, interpretadas e desejadas na sociedade contemporânea. Tanto a ampliação (ensaio visual), quanto o ensaio textual se apoiam conceitualmente em pesquisadores como Fontcuberta (2016), Acaso (2006) e Han (2017), que versam sobre como essa adoração da autoimagem é uma característica da contemporaneidade, portanto, pós-fotográfica.
sobre a autora:
Ana Carolina Ribeiro Pimentel é graduada em Fotografia pela Universidade de Vila Velha e atualmente cursando Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Participa do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e Arte Contemporânea (CE/UFES) com foco na linha de processos artísticos e educativos relacionados na contemporaneidade. Bolsista PIBIC CNPq (2022-2023), com desenvolvimento do projeto "Pós-fotografia e educação: O papel da leitura de imagens na aproximação com a arte contemporânea".
Referências:
ACASO, María. Esto no son las Torres Gemelas: Cómo aprender a leer la televisión y otras imágenes. Madrid: Los Libros de la Catarata, 2006.
FONTCUBERTA, Joan. La furia de las imágenes: Notas sobre la postfotografía. Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2016.
HAN, Byung-Chul. Sociedade da Transparência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
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