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descronológico natureza morta

Uma das perspectivas contemporâneas do ensino da arte se propõe a partir do questionamento da linearidade enganosamente evolutiva da cronologia das produções artísticas. No lugar de um trabalho que proponha um caminho linear, que percorre a produção artística narrada pelos livros de história da arte, propõe-se que o planejamento dos professores: transpasse variados contextos, relacionando-os e confrontando-os entre si; atravesse diferentes tempos, evidenciando os encontros e fricções entre produções de outros períodos e investigue múltiplos autores, demarcando como as respostas para perguntas semelhantes podem ser complexas e variadas.


A recriação de uma linha do tempo que não seja unidirecional e evolutiva possibilita um olhar ampliado para a produção de outros tempos, além de evidenciar que as produções artísticas e imagéticas se reconfiguram a partir das leituras produzidas de maneira contextual. Assim, no lugar de uma aprendizagem voltada para a compreensão de datas e de períodos, identificam-se questões pertinentes ao momento e aos sujeitos que o compuseram, possibilitando perceber conexões com o tempo presente e desenvolver analogias anacrônicas que ressignifiquem as imagens. Ao mudar esse ponto de vista de uma aprendizagem voltada para os dados e assumir a leitura das imagens como foco central, entende-se que o ensino da arte é menos um conjunto de dados históricos, publicado nos livros e apresentado em múltiplas fontes digitais, e mais uma leitura individualizada e investigativa dos aspectos que compõem o meio artístico.


Por isso propomos o descronológico, um exercício onde sugerimos a relação entre dois tempos, a partir de conexões e desconexões entre uma obra contemporânea e uma obra de algum outro período da história da arte. Na edição de hoje conectamos Natureza morta, pintura de 1892, de Claude Monet, com Tableau piège, criada em 1972, por Daniel Spoerri.


Como conexões podemos pensar que mesas postas, alimentos, louças, flores e outros objetos foram sempre retratados dentro do gênero natureza-morta. Monet registra frutas e louças pensando a incidência da luz e as cores, preocupações recorrentes do impressionismo. Daniel Spoerri captura fotograficamente um grupo de objetos, como restos de comida e louças espalhadas após refeições ou reuniões feitas por outros indivíduos. objetos do cotidiano se conectam nos dois trabalhos.


Já como desconexões podemos pensar que enquanto em diferentes representações da história da arte que ressignificam a natureza-morta o que está em jogo são as formas, os estudos de composição e as cenas do cotidiano, as diferentes versões de Tableau piège estão pensando mais o acaso do agrupamento de diferentes vestígios deixados por outras pessoas como resultado de uma ação. discute-se, nas obras contemporâneas, a questão da autoria também, visto que a composição não é proposta por Spoerri.


Partimos desse ponto, mas e você: que outras conexões e desconexões identifica entre as duas obras?




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