O planejamento docente no ensino da arte passa pela pesquisa e pela construção de relações entre produções de diferentes autores, lugares, tempos e contextos. Com 6 conexões entre nós propomos um diálogo entre duas obras de arte contemporânea, elencando conceitos-chave que sejam pertinentes aos dois trabalhos. A proximidade da obra com o conceito pode demarcar a referência maior àquele extremo da ligação, mas temos sempre pontos que se ramificam na relação, possibilitando a abertura para outras conexões no processo.
Relacionamos O eu e o tu (1967), de Lygia Clark, com Três broto-cantos e uma dança (Treveste) (2017), de Ernesto Neto. As palavras pensadas para a relação foram:
nesse caminho de conexão entre as obras pensamos:
na sensorialidade, já que ambas as obras abordam o aspecto sensorial do corpo com o objeto de arte;
na conexão, porque o trabalho de Lygia Clark propõe o toque com outro participante e porque Ernesto Neto permite que pessoas se conectem a partir de uma espécie de tecido para vestir;
no corpo, pelo fato de que ambas as obras requerem o corpo do espectador-participador que precisa vestir a obra para que ela aconteça e sua sensorialidade seja ativada;
que a gestualidade existe porque a partir do corpo são realizados gestos dentro da obra tanto em O eu e o tu e Três broto-cantos e uma dança (Treveste);
que a vestimenta pode ser vista no trabalho de Lygia Clark porque ele se constitui em uma espécie de roupa/capa de vestir, enquanto que o de Ernesto Neto necessita que os participantes vistam a sua costura;
e no pertencimento que principalmente na obra de Ernesto Neto “abraça” os participantes-espectadores de maneira que o fazem compor a obra, mas também pela roupa de Lygia Clark que igualmente possibilita que o participador faça parte do seu trabalho.
sobre os artistas:
Lygia Clark (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1920 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988). Pintora e escultora. Trabalha com instalações e body art e destaca-se por trabalhar com a relação no campo da arte terapia. Propõe a desmistificação da arte e do artista e a desalienação do espectador, que compartilha a criação da obra. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1947 e inicia aprendizado artístico com Burle Marx (1909-1994). Entre 1950 e 1952 vive em Paris, onde estuda com Fernand Léger (1881-1955), Arpad Szenes (1897-1985) e Isaac Dobrinsky (1891-1973). De volta ao Brasil, integra o Grupo Frente.
Ernesto Neto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1964). Artista multimídia. Na década de 1980, estuda escultura com Jaime Sampaio e com João Carlos Goldberg na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage). Realiza ainda cursos de intervenção urbana e escultura com Cleber Machado e com Roberto Moriconi, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Sua produção situa-se entre a escultura e a instalação. No início da carreira, sua trajetória é marcada pelas obras dos artistas José Resende (1945) e Tunga (1952), na exploração da articulação formal e simbólica entre matérias diversas. Mais tarde, passa a utilizar predominantemente meias de poliamida e outros materiais mais flexíveis e cotidianos. Na segunda metade dos anos 1990, Ernesto Neto realiza esculturas nas quais emprega tubos de malha fina e translúcida, preenchidos com especiarias de variadas cores e aromas, como açafrão ou cravo da índia em pó. As esculturas apresentam alusões ao corpo humano no tecido que se assemelha à epiderme e nas formas sinuosas que se estabelecem no espaço. No final da década de 1990, Ernesto Neto passa a elaborar as "naves", estruturas de tecido transparente e flexível, que podem ser penetradas pelo público. Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa11848/ernesto-neto
imagem 1: Lygia Clark - O eu e o tu (1967)
imagem 2: Ernesto Neto - Três brotos e uma Dança (Treveste) (2017)
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