Sobre a pesquisa: “Pensando a construção da identidade docente a partir da influência do cinema: Modos de ser professor representados nos filmes”, desenvolvida como trabalho de graduação no curso de Licenciatura em Pedagogia na UFES, sob orientação da Profª. Drª. Julia Rocha
Quando pensamos sobre educação e sobre a profissão docente, corremos o risco de nos atermos a discursos simplistas que a consideram como meio de ascensão social e transformação ou como mera perpetuadora do status quo. No movimento contrário, na minha relação com a educação e no meu percurso formativo dentro do curso de Licenciatura em Pedagogia, fui continuamente convidada a pensar sobre a real potência que os estudos da educação possuem, sobre suas limitações e sobre a necessidade de fugir destes discursos onde as ações educativas reduzem-se a uma perspectiva dualista onde podem tudo ou não podem nada.
Esses discursos simplistas também podem ser observados na representação da profissão docente construídos nos produtos audiovisuais, pois quando pensamos sobre exemplos ou modelos de professores, quase sempre realizamos a contraposição entre um “bom professor” - sensível, atencioso e dedicado - com o professor carrasco, autoritário e disciplinador, perdendo de vista que na realidade nada é tão cristalizado e simples quanto essa oposição binária. Essa reflexão nos gera inquietude e angústias, pois, como futuros professores, o que seremos? Como serão nossas práticas em sala de aula? Será que seremos os chamados “bons professores” ou estaremos mais próximos do comportamento do professor carrasco? E como faremos para não reproduzir o modelo desse professor autoritário? Como a minha formação tem contribuído para a prática que terei?
Parte dessas inquietações são abordadas na pesquisa Pensando a construção da identidade docente a partir da influência do cinema: Modos de ser professor representados nos filmes, que busca primeiramente pensar sobre a profissão e formação docente, considerando que ser professor é um ato político, repleto de escolhas e que diz de uma compreensão de mundo e de sociedade. Considerando também que o percurso formativo ultrapassa o currículo prescritivo, que é realizado através de ressonâncias múltiplas, que perpassa desde os exemplos de antigos professores, construindo-se também pelas trocas que temos com colegas em aula e pela interação com os futuros parceiros de profissão, assim como também pelas representações sociais identificadas nos artefatos culturais, como músicas, filmes e poemas - parte deles, objetos de análise da pesquisa.
Pensando na influência das representações sociais, busco refletir sobre o modo como os filmes que retratam os professores nos dizem sobre a formação da identidade docente. De que forma as produções audiovisuais que retratam escolas, professores e estudantes se interrelacionando nos influenciam, nos dizem sobre uma forma de ser professor e corroboram para que algumas imagens sobre os docentes sejam cristalizadas no nosso imaginário social?
Para isso, após pensar sobre a profissão e a formação docente, no desenvolvimento da pesquisa busco refletir sobre o poder formativo das imagens e do cinema, considerando o quanto estamos rodeados de um mundo repleto de imagens, que sempre nos comunicam, nos dizendo o que fazer, o que desejar e também como devemos ser. A reflexão pensa sobre o modo como o cinema se torna um importante meio de veiculação de ideias e ideais, que refletem na maneira como nos enxergamos e também como visualizamos os outros, influenciando também o modo como nos relacionamos com eles.
A construção das identidades por meio do cinema também pode ser refletida na construção da identidade docente, uma vez que através das produções audiovisuais sobre professores somos influenciados no modo como enxergamos e encaramos a profissão. Devido a isto, a pesquisa buscou analisar três filmes: Vermelho como céu, Como estrelas na Terra: toda criança é especial e Escritores da liberdade, refletindo sobre a forma como eles nos dizem sobre a profissão e pensando sobre como nos influenciam na constituição de uma identidade de professor. A análise considerou a forma como as produções audiovisuais permeiam nosso imaginário social, impactando na idealização da profissão.
Através dos filmes analisados na pesquisa podemos visualizar uma contraposição entre o professor autoritário, rígido, apegado à disciplina e ao controle, com o professor que chamamos de sensível, que considera as demandas dos alunos, está disposto a ouvir suas considerações e busca estabelecer uma relação horizontal com a turma. Esta contraposição existente nos filmes corrobora para uma ideia simplista da profissão, visualizada na figura do “bom” ou do “mal” professor, através de figuras cristalizadas que são uma coisa ou outra, quando na verdade somos uma mistura nada homogênea daquilo que almejamos com aquilo que criticamos.
Isto corrobora para a inquietude que o aluno em formação dentro do curso de Pedagogia possui em relação à profissão, uma vez que quando tomamos como referência as produções audiovisuais como verdades e buscamos ser como os personagens daquelas narrativas, também corremos o risco de buscar por ideias que na realidade são difíceis de serem alcançadas. O que nos leva ao constante questionamento: será que conseguirei ser o professor que almejo? Ou será que me tornarei o professor que sempre critiquei? Questionamentos estes que para serem vencidos precisam partir da superação de uma visão simplista da educação, compreendendo que a função docente não perpassa pela construção dualista construída no meio audiovisual e que dificilmente seremos apenas uma coisa ou outra, mas sim uma mistura daquilo que admiramos com aquilo que criticamos.
Isso demonstra o poder formativo que as imagens possuem, pois nos comunicam, nos afetam e vendem um modo de ser e estar no mundo, construindo com isso nossa subjetividade e também nossa identidade docente. Através das imagens e das narrativas que consumimos moldamos o modo como vemos os professores e a profissão. Deste modo, através do entendimento do seu poder formativo a pesquisa é um convite para que possamos ver as imagens e os filmes de modo crítico, buscando analisar o modo como têm nos atravessado.
sobre a autora:
Graduanda em Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Tem interesse em pesquisa no campo da educação em seus processos formativos e em suas políticas públicas.
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