Uma das perspectivas contemporâneas do ensino da arte se propõe a partir do questionamento da linearidade enganosamente evolutiva da cronologia das produções artísticas. No lugar de um trabalho que proponha um caminho linear, que percorre a produção artística narrada pelos livros de história da arte, propõe-se que o planejamento dos professores: transpasse variados contextos, relacionando-os e confrontando-os entre si; atravesse diferentes tempos, evidenciando os encontros e fricções entre produções de outros períodos e investigue múltiplos autores, demarcando como as respostas para perguntas semelhantes podem ser complexas e variadas.
A recriação de uma linha do tempo que não seja unidirecional e evolutiva possibilita um olhar ampliado para a produção de outros tempos, além de evidenciar que as produções artísticas e imagéticas se reconfiguram a partir das leituras produzidas de maneira contextual. Assim, no lugar de uma aprendizagem voltada para a compreensão de datas e de períodos, identificam-se questões pertinentes ao momento e aos sujeitos que o compuseram, possibilitando perceber conexões com o tempo presente e desenvolver analogias anacrônicas que ressignifiquem as imagens. Ao mudar esse ponto de vista de uma aprendizagem voltada para os dados e assumir a leitura das imagens como foco central, entende-se que o ensino da arte é menos um conjunto de dados históricos, publicado nos livros e apresentado em múltiplas fontes digitais, e mais uma leitura individualizada e investigativa dos aspectos que compõem o meio artístico.
Por isso propomos o descronológico, um exercício onde sugerimos a relação entre dois tempos, a partir de conexões e desconexões entre uma obra contemporânea e uma obra de algum outro período da história da arte. Na edição de hoje conectamos as Linhas de Nazca, feitas no Deserto de Sechura, no Peru entre 500 a.C. e 500 d.C. com Natureza morta 1, 2016, de Denilson Baniwa.
As marcações gráficas feitas em territórios são uma primeira conexão entre as linhas de Nazca e Natureza morta 1, de Denilson Baniwa. O grupo de grandes geoglifos representa figuras abstratas e retratações da natureza, registrados no solo do deserto de Sechura, no sul do Peru. A produção contemporânea trata-se de uma montagem fotográfica que representa "a silhueta de um pajé com uma pose que sugere uma dança cerimonial a partir da colagem de imagens de satélite de áreas desmatadas da floresta Amazônica".
O propósito de produção das imagens se desconectam. antropólogos, etnólogos e arqueólogos estudaram a antiga cultura de Nazca para tentar determinar a intencionalidade das linhas e figuras e a hipótese mais concreta diz que o povo as criou para serem vistas por divindades no céu. A obra de Baniwa, por sua vez, trata-se de "denúncia contra desmatamento e o genocídio dos povos indígenas promovido pela exploração desenfreada da Amazônia".
Em relação à produção das imagens existe uma distinção porque enquanto as linhas de Nazca foram feitas pela marcação física na terra, mudando a paisagem pela ação humana, a montagem fotográfica de Baniwa propõe uma intervenção digital na paisagem. Na obra do artista existe a mudança física do território, mas provocada pela intervenção humana, passando a ser alvo de denúncia do artista.
Partimos desse ponto, mas e você: que outras conexões e desconexões identifica entre as duas obras?
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