Uma das perspectivas contemporâneas do ensino da arte se propõe a partir do questionamento da linearidade enganosamente evolutiva da cronologia das produções artísticas. No lugar de um trabalho que proponha um caminho linear, que percorre a produção artística narrada pelos livros de história da arte, propõe-se que o planejamento dos professores: transpasse variados contextos, relacionando-os e confrontando-os entre si; atravesse diferentes tempos, evidenciando os encontros e fricções entre produções de outros períodos e investigue múltiplos autores, demarcando como as respostas para perguntas semelhantes podem ser complexas e variadas.
A recriação de uma linha do tempo que não seja unidirecional e evolutiva possibilita um olhar ampliado para a produção de outros tempos, além de evidenciar que as produções artísticas e imagéticas se reconfiguram a partir das leituras produzidas de maneira contextual. Assim, no lugar de uma aprendizagem voltada para a compreensão de datas e de períodos, identificam-se questões pertinentes ao momento e aos sujeitos que o compuseram, possibilitando perceber conexões com o tempo presente e desenvolver analogias anacrônicas que ressignifiquem as imagens. Ao mudar esse ponto de vista de uma aprendizagem voltada para os dados e assumir a leitura das imagens como foco central, entende-se que o ensino da arte é menos um conjunto de dados históricos, publicado nos livros e apresentado em múltiplas fontes digitais, e mais uma leitura individualizada e investigativa dos aspectos que compõem o meio artístico.
Por isso propomos o descronológico, um exercício onde sugerimos a relação entre dois tempos, a partir de conexões e desconexões entre uma obra contemporânea e uma obra de algum outro período da história da arte. Na edição de hoje conectamos Sheep by the Sea, 1865, de Rosa Bonheur com A impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo, 1991, de Damien Hirst.
O estudo da anatomia animal esteve presente durante diferentes períodos da história da arte, como forma de pesquisa ou documentação. Estabelecendo uma relação em torno desse tema temos as pinturas, de Rosa Bonheur e a instalação com um tubarão partido, de Damien Hirst. Os dois artistas representam animais em suas obras e pensam sua anatomia como objeto de estudo.
Essa representação dos animais foi desenvolvida com variadas perspectivas no decorrer da história. No caso dessas duas imagens, o realismo é um ponto de conexão, uma vez que Bonheur buscavam a retratação fidedigna em suas pinturas e Hirst recorre ao próprio animal como material de sua instalação. A discussão por trás dos trabalhos, contudo, é diferente.
Na contramão das produções de seu período e do domínio masculino no sistema da arte da época, Bonheur estudou anatomia animal nos abatedouros de Paris e os dissecou no Instituto Nacional de Veterinária. Estes estudos posteriormente foram úteis referências para suas esculturas e quadros. esse estudo demandava autorização, pela presença de uma mulher nesses ambientes.
Partimos desse ponto, mas e você: que outras conexões e desconexões identifica entre as duas obras?
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